terça-feira, 30 de novembro de 2010

Quantos nascerão dos mortos?

Ao fim de novembro de 2010 a sociedade brasileira teve a oportunidade – esperamos - única de presenciar um dos episódios mais conturbados, conflitantes e penosos, principalmente, ao povo do Rio de Janeiro.

Quase 3 mil homens, entre policiais militares e civís e membros das forças armadas, protagonizaram a ação sobre morros cariocas na caça de traficantes e seus laranjas, após a promoção de diversos ataques e afrontas à ordem pública. Especialistas afirmaram que o apoio e a visão da população sobre as forças do Estado, colocando-os num status de heróis, é inédita em toda a história do país. Por alguns dias o povo não temeu a polícia, mas se entregou aos seus braços e respaldou seus atos.

Sem dúvida diversas críticas poderiam ser tecidas à operação de intervenção morro acima orquestrada pela polícia e a mídia (só agora era preciso fazer algo? Antes o reduto dos criminosos ainda não era conhecido? Depois da Copa e das Olimpíadas a paz vai continuar? Só polícia no morro basta, ou tem que dar educação, cultura, saúde...?). No entanto, quero me ater somente ao "pós-operatório", o famoso "e agora?".

Estranhamente uma ação que contou, como dito antes, com cerca de 3 mil homens lutando contra centenas de bandidos determinadamente relutantes em se entregar é primeira página e destaque de jornais, telejornais, sites e revistas, como um sucesso, a conquista da paz, um exemplo de intervenção militar, a vitória da sociedade civilizada sobre os brutos da desordem. Mas afinal, quantos morreram? Até agora nenhum jornalista mostrou a cara pálida frente as câmeras e divulgou o número de mortos. A única matéria divulgada nos grandes meios que cita a falta deste número foi uma da Folha.com, cujo título é: "Polícia destruiu TVs, dizem moradores do Complexo do Alemão", ou seja, o dado sobre o número de mortos nem destaque é. Segundo a reportagem, moradores das favelas afirmam que 60 homens foram mortos na fuga da Vila Cruzeiro, na quinta-feira passada, e que os corpos estariam espalhados pela mata da rota de fuga que tem seu acesso, coincidentemente, impedido pela polícia.

É óbvio que desmantelar a estrutura criminosa dos traficantes não é coisa fácil e que vidas iriam ser perdidas, sangue iria ser derramado, mas já que o assunto foi tão explorado, principalmente pela Rede Globo, durante os plantões de notícias da TV que o máximo de informações fosse repassada a população. Que a realidade venha à tona. Policiais, BOPE, fuzileiros, soldados, etc. NÃO SÃO HERÓIS e traficantes, laranjas, aviõezinhos NÃO SÃO VILÕES. O sistema, o mundo, a rede, enfim, o lugar onde vivemos é muito mais complexo do que isso. Tipificar ou rotular os agentes dessa batalha entre mocinho e bandido, bem e mau, é ignorar todo o histórico de desigualdade e de necessidades não atendidas, pelo Estado "Democrático de Direito", de uma população miserável.

Não vamos esquecer ou ignorar que, apesar do êxodo de criminosos, ainda existem famílias inteiras vivendo em condições calamitosas, que existem crianças, algumas que passarão o Natal e o resto da vida órfãs, como o filho de um segurança baleado ao sair de casa no Alemão para distribuir convites da festinha de aniversário de um ano do filho, que não têm culpa de estar no lugar onde estão e da condição a que respondem. O dever não foi cumprido, a morte e os mortos ainda vão continuar assombrando aqueles bolsões de pobreza e descaso por algum tempo se nada mais for feito.

Há dez anos, após o sequestro do ônibus 174, promovido por um jovem que quando criança presenciou a chacina da Candelária, ocorrida também no Rio em 1993, culminou na morte deste e de outra inocente. Lembremos. E que algo seja feito para que daqui alguns anos jovens sedentos de vingança com as imagens dessa guerra guardadas em sua memória não precisem expressar sua raiva pela violência, mas que tenham a oportunidade de trilhar diferentes caminhos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

É só o começo!

CARTA ABERTA ENVIADA PELO GRUPO INTERAÇÕES - UNESP BOTUCATU

Após o ocorrido na festa do dia 16/11, manifestamos nosso repúdio aos atos homofóbicos de várias formas, uma delas foi levando uma mensagem do que esperamos da sociedade. Em outra festa, no dia 18/11, usamos plaquinhas penduradas no pescoço, cada uma com um dizer: Amor, Liberdade, Igualdade, Direitos Humanos, Respeito e Paz. Claro que a aceitação não foi total, pois fomos discriminados novamente, e questionados quanto à invasão do espaço dos demais presentes na festa (??!!), e chegamos a ouvir a seguinte declaração: “a palavra respeito não significa nada para mim” (!!).

Para nossa surpresa, no dia 20/11, em outra festa, os mesmos agressores carregavam plaquinhas com os seguintes dizeres: “eu adoro cacete” e “eu preciso de um companheiro”. Mostrando que a homofobia está mais do que presente em nossa universidade, pois as plaquinhas possuem uma clara demonstração pejorativa a respeito da orientação homossexual (por exemplo, se as plaquinhas se referissem às mulheres, seria uma clara demonstração de machismo). E mostrando ainda, que nossa mensagem não foi propriamente entendida.

A intenção não era provocar ninguém, portanto obter uma manifestação em “resposta” não era nosso objetivo. Sabemos que começamos um processo, e não uma guerra. A transformação não vai ser fácil, pois construir o conceito de respeito em alguém, não é algo tão simples, mas estaremos aqui, fazendo o possível pela igualdade entre tod@s! Mesmo que seja preciso escrever um relato por dia, não deixaremos nenhuma forma de discriminação passar despercebida, é hora de dar um basta a tudo isso!



Grupo Interações – UNESP Botucatu

“E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor?” Caio Fernando de Abreu

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Abajur

Apenas a luz amarelada do abajur iluminava a beirada da cama. Ainda havia a luz do sol lá fora, mas ele fechou a porta da varanda e cobriu com a cortina azul-marinho. Desde que chegou não disse nada, nem um cumprimento sequer, jogou as pastas do trabalho sobre o sofá e foi direto ao encontro da mulher. Ela estranhou o comportamento dele. Achou melhor sentar na beirada da cama como pedido e esperar sem fazer qualquer pergunta. Desde os primeiros dias, quando passaram a morar juntos, algo estava diferente. Ela pensou que seria algo passageiro e foi cedendo, agora não sabia mais agir de outra forma.

O abajur acendeu sozinho. Isso sempre acontecia por causa do interruptor sensível e defeituoso que ficava encostado na cama. Vários dias ela acordou assustada com aquela luz sobre seu rosto. Desde menina só pegava no sono quando tudo se perdia na mais vasta escuridão, odiava dormir com a porta aberta e a luz do corredor acesa, foram anos até que sua irmã caçula se acostumasse com seu modo. Nisso ela fez questão de nunca ceder.

Ele deitou-se com cuidado e se aproximou das suas pernas, que estavam nuas até uns quatro dedos acima do joelho, ajeitou sua cabeça entre as duas coxas que eram como pequenas almofadas quentes. Recebeu carinho sobre o rosto áspero carregado da barba por fazer e quando abriu os olhos sentiu as primeiras lágrimas escorrerem, mornas, até umedecer o tecido daquelas almofadas. Preciso falar com você. Quero explicar tudo e quero que você só fale quando eu terminar. Ela sentiu uma sensação terrível, como se pequenos cristais de gelo começassem a ser bombeados pelo coração a todos os membros do seu corpo, porém fez sinal com a cabeça de que concordava com a proposta do companheiro.

— Eu não sei o que aconteceu. Quer dizer. Eu sei o que foi, mas não entendo o porquê – fechou os olhos por alguns segundo e continuou – Nossa relação é perfeita, eu não posso reclamar de você. Sempre esteve ao meu lado, me incentivou em meus projetos, se interessa pelas minhas coisas, diz que me ama com freqüência, nunca se recusou a me ouvir, como agora. Estava tudo perfeito, talvez até perfeito demais para alguém como eu. O fato é que comecei a duvidar de que eu sou capaz de receber tanto carinho, tanta dedicação...

— Você é! Perdão.

— Não sou. Já tenho a certeza. Apesar de tudo o que você me dá, eu quis mais. Deixei que meu egoísmo tomasse conta de mim e me permiti esquecer você. Mesmo te vendo, te tocando e dormindo ao seu lado me esqueci de você. Por isso, pude voltar a ser incompleto e a procurar o que faltava. Achei. Infelizmente.

Estava imersa em lembranças. Ela já havia entendido desde o inicio. Na verdade, pensava que sabia de tudo desde a noite anterior, quando sonhou que ele estava perdido em um lugar desconhecido pedindo ajuda ao céu e à terra sem poder vê-la. Ela sem poder aproximar-se. Algo a prendia, mas não eram correntes ou grades, parecia ser algo que carregava, penosamente, dentro de si. Sonhou por toda noite o mesmo sonho. Que horror! Era o que dizia a si mesmo quando levantou de manhã e foi até o espelho do banheiro lavar o rosto, enquanto ouvia o portão da garagem abrindo e a porta do carro fechando. Quer que eu pare? A pergunta fez com que ela voltasse ao quarto iluminado apenas pelo velho abajur. Fez que não com a cabeça.

— Reencontrei uma amiga dos tempos da faculdade, na época servíamos de confessionário um para o outro. Resolvi dizer o que estava acontecendo comigo. Ela foi compreensiva, se dispôs a me ajudar. Eu retribuía, ouvindo sobre seus conflitos e decepções recentes que tivera num breve casamento – nem chegaram a se casar, na verdade só juntaram os trapos, como nós – será que nos casamos sem perceber? Nos tornamos cúmplices. Qualquer problema que me atormentasse era ela quem eu procurava e vice-versa. Eu realmente achava que tinha me esquecido de você, não me lembrava.

Nossos encontros foram se tornando mais freqüentes e intensos. Nos sentíamos como dois renegados, dois incompreendidos que só compreendiam um ao outro. Era uma linda amizade, que acabou se tornando um erro. Um dia eu estava me sentindo ótimo. Minhas dúvidas pareciam estar desaparecendo, minhas preocupações diminuindo. A nuvem que pairava sobre você se dissipava. Ela me procurou para dizer que tinha ido atrás do ex e que ele, simplesmente, a ignorou. O ex já a esqueceu, não como eu havia feito com você. Essa constatação acabou com ela, a derrubou. Fiz de tudo para consolar através da conversa e da aproximação. A crise só terminou quando a razão abandonou nossos corpos ao livre arbítrio da alma. Naquele momento um vento traiçoeiro soprou a nuvem de volta ao seu território. Depois de irmos embora acho que a ficha caiu. Você voltou. Eu voltei. Não consigo mais parar de pensar em ti. De querer vir para ficar junto com você. Já faz dois meses...

— Que não transamos – ela interrompeu com calma, mas sem pedir perdão.

— Eu não consigo. Penso em você a todo instante, mas quando te vejo a consciência me proibi de continuar te enganando. Por isso estou sendo tão sincero, estou te dizendo tudo isso porque quero ser feliz novamente contigo. Eu só fui feliz com você. Me entende?

— Entendo – respondeu secando as lágrimas que caiam dos seus olhos e dos dele com as pontas dos dedos – Mas agora eu preciso de um novo abajur.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Não sou guru, nem mestre, nem sábio, nem pai, nem namorado
Não sou super, nem 10, nem pau-pra-toda-obra
Não sou senhor da razão, nem das horas
Sou apenas humano e me permito um pouco de arrogância, bondade, ignorância, intuição, bondade, maldade, frustração, felicidade, tristeza, gemidos de prazer e de raiva, preguiça, coragem, indiferença e falsidade. Sou sincero somente pela metade. Sou um ser que é humano

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Comunicação XXI ou XY

Ela disse: Como assim? Não entendi o que você quis dizer.
É que meu sinal está falhando, tô passando numa baixada, só dá pra te ouvir como se estivesse bem longe, bem baixinho, daqui a pouco volta ao normal, quando chegar numa subida - ele respondeu.
Do que você está falando? Eu estou do seu lado.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Agenda

Não tenho agendas de papel
Costumo fazer a minha na memória
O problema é que às vezes me esqueço,
e também essa é a solução.
São tantas coisas, tantas datas,
tantas pessoas, tanto tempo.

Precisava de uma brecha
Pra marcar o meu próprio encontro.
"Amarás o próximo como a ti mesmo". Faz total sentido. Existem formas tão peculiares de amar - amar é liberdade.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Um homem nu

Quando entrou no ônibus não pôde acreditar no que viu. Logo ali no primeiro par de poltronas, atrás do motorista, ocupando ambos os lugares, adormecido como um justo, com a cabeça recostada sobre uma das mãos apoiada na janela, parecendo quase não respirar: um homem nu.

Nu, simplesmente, nu! Como assim? Não entendia como alguém poderia estar ali, deitado ali em plena luz do dia, trajado apenas pelas suas próprias células e pelos que não eram muitos com exceção das partes que convinham. Será que ninguém estava vendo aquilo, teria enlouquecido, adormecido, desmaiado? Não, era real. Estava ali, dentro de um ônibus olhando um homem nu. Será que ninguém mais estava vendo, ou será que ninguém mais se importava. Não posso ficar no mesmo lugar que ele, não é possível - falava para si.

Os segundos passavam e o coletivo não via obstáculos em seu caminho. Provavelmente, para não ter que pegar um atalho, o motorista aceleraria ao máximo para não chegar ao ponto final ainda mais atrasado. Valetas, lombadas, tartarugas, buracos e poças eram superados com violência pela máquina lotada, donde se ouvia resmungos e sentia-se o bafo quente de muitos corpos aproximados. A cada irregularidade da pista saltava-se mais os olhos para aquele corpo, que devido ao enorme relaxamento permitia os saltos das mais interessantes e ignoradas partes. De súbito, começa a surgir dentro de si um calor, mais intenso ainda do que o que vem dos demais passageiros. Não pode ser, por esse homem, nesse ônibus, com tantas pessoas podendo ver. Mas ninguém via, realmente, ninguém se importava.

O ônibus começava a se esvaziar. Descia um, dois, sete passageiros. Só resta o motorista e esse homem, meu ponto é o próximo. Pensou com certo alívio - não teria mais que se controlar, não teria mais que olhar, que sentir o que quer que fosse, nojo, repulsa, estranhamento, carinho, ternura. Enfim, é minha hora. A porta está aberta, vou. Ele ainda não acordou, pra onde será que vai?

Alcançou a calçada, caminhou sem parar, o sol estava a pino. Aos poucos se sentiu melhor, mais leve, até diminuir o passo. E ria, ria como uma criança, ria com prazer verdadeiro. Ria por conseguir pensar ter se esquecido do que sentiu durante viagem com o homem nu.

Sentidos

Acordei pleno. Cercado pela multidão que em parte se agitava para todos os lados e em outra se mantinha adormecida, exausta pelas vigílias profissionais ou pelos prazeres que acompanham a noite. Era necessário estar aqui. Mais do que nunca é necessário estar, ser, presenciar o que vai se passar. Deixar aflorar todos os sentidos. É ímpossível não ver tudo o que se revela sob a luz do sol. É imprescindível tocar e ser tocado profundamente no corpo e na alma, tocar tudo e todos com o corpo e com a alma. Sentir os cheiros espalhados no ar, do combústivel queimado, dos perfumes exagerados, do hálito dos bêbados sustentados pelas animadas paredes ou amparados pelas calçada, das refeições em seus horários sempre, mais ou menos, exatos, das flores onde que que estejam, nos campos, jardins, canteiros, nos homens e mulheres. Sentir o gosto da saliva, da pele, o doce que há em tudo, e do amargo que nos acompanha, nós querendo ou não. É importante escrever isso antes que o sentimento se despeça, em peça por peça e eu não mais sinta as vontades do que falo, não mais acredite na verdade, como as outras, temporária deste instante. É preciso, mais do que nunca, fazer o que peço, estar com os outros ser parte de um todo. Por que no fim só serei eu. Comigo e com todos o que restará é só o eu.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mariano LV

A cama parecia desconfortável demais naquela noite - ora o colchão parecia muito endurecido, ora muito mole. De bruços, de costas, virado para a parede, para o restante do quarto; não havia posição que convencesse o sono a se deitar sobre a alma confusa. Uma tentativa era pensar e pensar, criar teias, soluções para alguns problemas do amanhã, tentar relembrar do que vale, ou não a pena, até, quem sabe, chegar a boa hora em que a cerveja é servida em pratos de porcelana produzidos pelo, quase aposentado, colega de trabalho que pediu uma caixa de fósforos, com cabeças azuis, ao paciente terminal, que sofria de catapora, que não encontrava sua moeda da sorte na carteira, pois fora engolida, sem perceber, ao beber um leite de magnésia batido com algas.
Neste momento talvez pudesse ter certeza que o sono viera. E que dali em diante já não teria mais que se preocupar em ser dono de si mesmo. O piloto-automático estava funcionando, a viagem seria longa. Porém, um vidro quebrado, um pedaço de madeira caiu no chão, algum ser humano corria lá fora.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Não me sobra, me falta.

O raro momento de coragem me vem e com ele o tremendo êxtase de me sentir vivo novamente, talvez mais próximo de um sentido, nem que seja, realmente, só meu. Me sinto pronto, capaz, potente, entusiasmado; não há confusões, não existem duvidas, um constante ausência da necessidade do porque. "Agora vai!". Os medos se dissolveram, a vontade de cair é maior do que tudo, é a hora de partir sem pensar na volta.
Porém, alguns minutos, talvez algumas horas, uma madrugada depois, tudo está de volta, tudo volta a ser como já foi e parece que não deixará de ser assim jamais. Percebo que na verdade os medos só haviam repousado um pouco no fundo da alma, porque são pesados demais para serem sustentados a todo momento na superfície. "Não fui". Acreditei que a transformação era eterna - o mal da euforia -, acreditei que tenho todo o tempo do mundo para fazer aquilo pelo que tinha espera no resto do tempo, que já não me sobra, me falta [segurança].

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Além do nada e/ou O frio

Era um momento meu,
mas ele quis compartilhar.
Veio sem aviso e me tirou dali,
daquele instante sagrado.
Me levou ao inesperado,
onde eu mais espero.
Lembrei daquela estrela cadente, ou era cometa?
Ao consciente só restou o pedido.
À imaginação o realizar.
Ao corpo os espasmos.
Ao espírito o desencontro.
Ao sonho a emoção.
Injusto. Ele se foi assim.
Passou e abandonou,
além do nada me deu o frio.
Levou tudo,
como se tudo fosse leve como as flores.
Mas deixou as sementes
para que continuem brotando dolorosamente.

Que prazer. Cai em ventania.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tricô

— Eu achei que você não queria mais olhar pra minha cara.
— Bobagem! Você sabe que eu não consigo guardar rancores por muito tempo... e outra, você tem esse seu jeito e pronto, não adianta. Aprendi a não te levar muito a sério.
— Babaca. Tá se achando, aposto. Mas agora é sério. Me desculpa por ter agido daquele jeito. Você estava sendo legal, seus amigos foram legais. Só que meu lado chatinha não suporta coisas legais, tive que ir embora, daquele jeito mesmo.
— Não adianta nada você falar tudo isso. Sabe que não vou com a cara da desculpa e o que foi já foi. Acabou. Sei que você é assim. Somos dois grandes babacas e teimosos – eu um pouquinho menos. E então, não vai rasgar esse embrulho feio.
— Poxa. Isso está tão feio que tô com dó de piorar ainda mais rasgando.
— O presente está dentro dessa coisa, é ele que importa. Vai logo!
— Tá bom... Nossa! Que linda! Olha, serviu certinho. Pediu pra sua mãe fazer ou comprou? Se foi ela que fez, diga que eu adorei.
— Fui eu que fiz.
— Han?
— Tive bastante tempo livre durante as últimas férias de julho. Pedi pra minha mãe e ela me ensinou a tricotar. Não é tão difícil... que foi? Não acredita em mim, ou acha que fazer tricô não é coisa de homem?
— Não, não. Quer dizer sim, não... ou sim, sim. Bem, eu acredito em você e acho que homens podem, SIM, tricotar. Obrigada mesmo, babaca.
— Acho que eu nunca vou conseguir ofender alguém com tanto carinho, nem com tanta frequência.
— Tente. Vai ver que não é tão difícil, assim como aconteceu com o tricô que você aprendeu. É mais fácil se começar com algo que você sabe que também é.
— Como assim?
— Me diz um defeito teu.
— Ah, sei lá. Acho que falo de mais às vezes - outras de menos; reclamo muito de tudo quanto é tipo de coisa, ou situação. Sou um falador.
— Ok. Só que “falador” não é insulto. Tem que ser algo correspondente e incômodo............ Já sei! Você é um grande Boca-aberta!
— HÁ-HÁ! Muito legal, hein? Não sou isso, não.
— Ah, claro que é pare de fazer charme. Então, agora é simples, comece a chamar os outros de “Ô Boca-aberta”. Mas vai com calma, no inicio diz pra quem você conhece, menos pai e mãe. Esses demoram mais pra se acostumar, mas uma hora aceitam.
— Quanta besteira. Valeu pela importante dica. Quem sabe um dia. Sentiu minha falta?
— Você sabe que eu não vou responder essa pergunta.
— Achei que dessa vez podia ser diferente.
— Por que?
— Porque esse nosso encontro é diferente. (não dentro do contexto do texto mas, para mim quando encontro alguém é preciso ser diferente, é preciso ter uma marca)
— Diferente como?
— Na verdade, ele é só meu. Ainda não decidi viajar tantos quilômetros pra falar com você e não peguei prática suficiente com a agulha pra fazer seu gorrinho roxo. Estou só idealizando, imaginando, como ele deveria acontecer, o que eu tenho que falar e o que quero ouvir.
— Quer dizer que eu sou apenas uma convidada participando dos seus sonhos?
— NÃO! Eu não estou dormindo. Estou bem acordado. Talvez sonhando acordado, ou será vivendo dormindo? Parece a mesma coisa.
— Agora você está realmente parecendo um babaca. Por que ao invés de ficar aí parado, pensando em como agir, o que dizer e o que quer ouvir, você não faz tudo isso rolar?
— É difícil... aliás, nem dá pra responder isso. Talvez essa construção toda da minha cabeça seja só mais uma daquelas idéias que a gente tem e que permanecem idéias pra sempre. Como um texto que você tem vontade de escrever e não escreve; uma opinião que tem pra dar e não dá. Nesse caso estou pensando em uma conversa bacana que quero ter contigo um dia. Porém, na verdade, está sendo eu comigo mesmo, nada de mais.
— Pelo contrário! É pelo nada de mais que você deveria começar. Durante toda essa sua viagem mentirosa você não pensou que eu realmente, quero dizer, na vida real, espero ter essa conversa com você?
— Pensei agora.
— AAHHAH! É impossível continuar essa coisa.
— Na verdade me sinto bem. Estou conseguindo me abrir, me expor, com você.
— Cara! Você ta falando com você mesmo e não comigo, entendeu?
— Eu sei, mas parece tão você falando. É como se eu soubesse exatamente todos os seus gestos, modos, as reações...
— Mas você não sabe! Você está criando tudo isso. Tudo o que eu estou sendo posso não ser.
— É, entretanto...
— Entretanto é o cacete. E aí? Você vai aprender o tricô, fazer meu presente, viajar até aqui e ter uma conversa legal comigo?
— Estou pensando em enviar pra você pelo correio.
— Babaca.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sentido

Eles sempre me diziam em bom tom: "Sentido!"
Eu não entendia, procurava aqui e ali. Me repreendiam. Errei mais uma vez.
Por procurar, procurar e procurar e nunca encontrar?

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Au revoir 21, adios

Meu último dia com 21 anos foi um dia bom. Um dia comum, daqueles, como vários outros, em que acordei com vontade de dormir mais, mas tinha algo - horário marcado - para fazer.

Me levantei com o sol meio apagado. Quando abri a porta da varanda vi o que parecia ser resquícios de uma geada, só que não podia ser, não fez tanto frio assim. Enfim, engraçado! Comi um pedaço do meu bolo de aniversário, que foi feito uma semana antes da data por motivos de força maior, e que já acabou. Saí. E nessa hora do que parecia ter sido uma geadinha não sobrara mais nada: o sol aquecia - sem dúvida -, o céu estava azul claríssimo e a brisa suave. Perfeito. Caminhei sem pressa.

Era minha primeira aula prática para tirar carteira de motorista. Antes dela vi meu amor e troquei um beijo de, talvez, bom dia. Dirigi. Fiquei tenso, mas é normal. O instrutor é gente boa. Essa profissão carrega um certo ar de austeridade e rabugice, mas ele é diferente. Quem sabe todos sejam?

Quando voltei para casa tinha pressa. Fiz a barba, deixei apenas o bigode (já já explico), tomei banho, almocei e já me pus a bater perna novamente. Meu destino era encontrar o pessoal do teatro, fizemos uma apresentação que para mim foi muito boa. Fez-me bem. E era por causa dela que precisava da penugem entre a ponta do nariz e a boca, compreende?

Depois de tudo fui ver minha mãe. Pode ser que esse seja o ponto contrastante do dia. Porque ela está bem, nem brigamos, mas justo ontem passou por uma cirurgia, que por obra de alguém, que não é o destino, agendou a bendita bem no dia que precede a chegada do meu vigésimo segundo inverno. Mas foi bom ver minha mãe afinal de contas. Me fortaleceu, nos fortalece.

Após tudo isso, lá pelas oito horas e miúdos da noite, não via a hora de chegar em casa, cansado. Não resisti. Fui para o teatro. Por outra obra do mesmo alguém um grupo teatral do qual gosto muito e preservo amizade vai apresentar no dia dos meus anOs uma peça nova - e eu não poderei ir. Contudo, fui convidado para assistir o ensaio geral e dar pitacos. Que é um tremendo privilágio (me refiro a ver o ensaio geral), pois é uma pré-estreia privada. Resumindo, a peça é ótima, o texto maravilhoso e desejo toda merda do mundo ao elenco.

Saí do teatro revitalizado, como ele sempre consegue fazer. Com sono. Talvez de um justo. O último dos meus 21.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Desespero

"Somos induzidos a querer coisas com as quais não nos importamos e desistir daquelas que fundamentalmente queremos"
Joseph Chaikin

Tenho um peso. Algo que me desanima, que até pouco tempo não era meu, pelo menos não mais.
Mas voltou silencioso e sorrateiro. Eu sei que não está dentro, mas me envolve por inteiro. Não sofro, não dói, o pior é não sentir, não enlouquecer. Preciso. Senão quem fará?

Só não posso sentir o meu dever como tal. Não agora, novamente, NÃO!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Colméia delirante

As vezes são vespas
vem e vão, vem e vão.
A cabeça tumultua,
tumultua, tomo tua, tô na tua,
Até que tombo.
Enfim me dou um silêncio

terça-feira, 11 de maio de 2010

Das 10 ao meio dia

Acho que a pior sensação do ser humano é a de inutilidade. É horrível sentir incapacidade em realizar as coisas que deseja, ou de ter novas idéias, projetos para a própria vida. Você para e vê todos fazendo algo, dando sentido (?) à existência, enquanto só pode permanecer lamentando. Eu, além de lamentar, também passo esses períodos comendo, dormir é mais difícil.

Pois, é. Tenho muitos desses momentos, quase diários. Porém, descobri uma forma de evitar boa parte deles e, é sério, está funcionando. A solução é não acordar entre as 10 horas da manhã e o meio-dia! Simples assim. Existe algo mais deprimente do que acordar entre essas duas horinhas que, só, parecem inofensivas? Pense bem, se você acorda neste período dá tempo de fazer o que? NADA! E isso vai fazer você se sentir inútil, a pior sensação do ser humano.

Por exemplo: acordando às 10, levanto, escovo os dentes, pipi, troco de roupa e tenho que comer alguma coisa, só nessa brincadeira já se foi valorosa meia-hora. Logo, falta apenas uma hora e meia para o almoço, tradicionalmente. Daí você caí naquela ansiedade de querer fazer coisas e mais coisas, mas sabendo que não vai dar tempo porque o pessoal que acordou bem mais cedo que você já estava no gás e vai dar uma descansada.

O ideal é despertar lá pelas 8 ou 9 horas, pelo menos pra mim. Assim, dá pra ver um sol bacana, curtir um clima ameno, e não se sentir tão lixo perto da galera que madruga. Pode sair fazer suas coisas tranquilamente. Parece que as idéias fluem melhor na cachola, a disposição aumenta não importando a hora em que foi dormir, os resultados aparecem, afinal você fez alguma coisa. Eu sei que esse relato parece bem coisa de desocupado (eufemismo), só que como eu conheço um monte, então vale a pena.

Se não for assim. Melhor levantar às 13 horas, chutar o balde, mandar tudo a merda, almoçar uma feijoada e embarcar no pesadelo outra vez.

domingo, 2 de maio de 2010

"Não FÍ!"

Fazia tempo que não sentia dores como essas. Nos joelhos, pés, virilha, coxas e até coluna. Não foi nenhum acidente. Só um daqueles bons futebolzinhos com os amigos, alugando a quadra da escola no fim de semana. Agora entendo que o ácido lático que um parceiro tanto fala, nada tem a ver com o leite de caixinha.

É, na verdade, só conhecia bem assim como amigo uma meia dúzia, nem isso. Só que o mais fantástico nesses "super eventos" é a cumplicidade instantânea, a conexão miojo. Não precisa nem de três minutos de pelotinha rolando pra estar enturmado. Até dois meninões que estavam prestando algum concurso, terminaram a prova e participaram da brincadeira - acho que foram os melhores em quadra também.

Outro aspecto importante é este, a habilidade da galera em desenvolver o futebol arte. Eu não sou nenhum craque, muito longe disso. Sou tão bom no futebol, quanto o Jorge Foreman na velha churrasqueira. Quase sempre tem aqueles carinhas que mandam muito bem, geralmente são os que escolhem o "resto" do time. E aqueles outros, inseridos no "resto", mas não menos importantes, pernas de pau - que tem medo da bola, de se machucar e de machucar o coleguinha também, por que não? Afinal rapazotes exaustos, fedendo a suor também sentem compaixão pelo próximo.

Não sou nenhum amante convicto do futebol. Mas o amarei sempre que promover o que aconteceu hoje. Um momento de alegria, simpatia, união e GOL!

domingo, 25 de abril de 2010

Angra dos Reis - Legião Urbana (eu peço)

"Vai ver que não é nada disso
Vai ver que já não sei quem sou
Vai ver que nunca fui o mesmo
A culpa é toda sua e nunca foi...

...

Quando as estrelas
Começarem a cair
Me diz, me diz
Pr'onde é
Que a gente vai fugir?"

quinta-feira, 22 de abril de 2010

510

Sem intenção
Descobriram a nação
Destruiu a cobertura
Mas deixarão cobertor
Me ensinaram a rezar
Ainda nem tinha altura
Agora vou me armar
Só não posso sentir dor

Vento seco

Vem vento
Vem seco
Veio e me secou

Levou as palavras
Que eram pra serem usadas
Mas secaram sem calor

Uvas passas

Ter medo é normal, essencial. Para existir a coragem o medo tem que estar presente, aquela é a volta por cima deste.

Imagine-se em uma casa abandonada, sozinho, a noite lá fora. A porta por onde você entrou já era. Você tem que procurar outra saída, outra passagem, ou vai querer ficar parado ali? Depois de alguns passos aparece uma outra porta fechada, não dá pra saber se está trancada, só tentando abri-la para saber. Vencer o medo é tentar abrir e, se conseguir, entrar pra ver o que tem por ali. Do mesmo jeito são nossos medos sociais. Falar, perguntar, experimentar, mudar. Cada vez que decidimos colocar um desses verbos em prática uma nova porta se abre em nosso mundo, em nossa mente, e ao entrarmos podemos tropeçar, nos machucar, continuar na mesma, ou aumentar nossos horizontes, oportunidades, por que não?

Bom, mas o medo que decidi superar hoje é outro, acho que não terei grandes complicações. Nunca gostei muito de uva passa, e nunca soube porque. Não se trata do gosto, talvez fosse mais pela textura. Devo ter colocado na cabeça que era ruim e entre deixar de comer e dizer pra mim mesmo que aquilo era frescura, que eu estava me sabotando, achei melhor não me desmascarar. Acontece que decidi não deixar mais de comer uva passa, evitá-la às vezes atrapalha. Ontem mesmo me deram um pedaço de chocolate 'Talento', gosto demais, mas o com embalagem roxa é o que tem uva passa. Acabei comendo só os pedacinhos que não tinha.

Hoje do nada me veio uma vontade imensa de comer aquele chocolate do jeito que ele é: COM UVA PASSA. Não vou mais perder tempo separando as frutinhas ressecadas, e sim abocanhar de uma vez, o doce, o chocolate, o bolo. Vou curtir, desfrutar, mastigar tudo e me sentir bem, sem culpa, sem frescura.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Tenho que parar de tropeçar tanto me esbarrando na parede. E começar a ralar o rosto no chão de vez em quando. Criar cicatrizes que doam no frio do outono e me resgatem com lembranças quando o inverno chegar.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ainda quero e posso sentir, mesmo sem encontrar uma razão para isso.
Afinal de contas existem coisas em que não existe razão, são coisas como
essa, que me fazem enlouquecer, sair do sério, perder o sentido do
certo e do errado, do até onde devo ou não ir, do que devo ou não
fazer.

São coisas como essa que me fazem pensar apenas em saltar em teu
seio, e me sentir, ali, seguro, protegido de todo este mundo de
razões, dúvidas e confusões que me rodeia o tempo inteiro...São
situações como essa que me fazem pensar e repensar no que sou, no
que sinto, no que tenho, e que me fazem perceber que o que eu fui, o
que eu senti, o que eu tinha não fazem mais sentido. Tudo isso não
tem mais importância, se eu sei o que estou sentido no exato
momento. Isso não foi algo fácil de se entender no início, mas agora
eu sei que não adianta lutar contra o que eu quero. Não faz sentido
lutar contra coisas sem sentido, que não precisam dele, que simplesmente
fazem parte de mim. Não faz sentido ir contra mim mesmo...

Não duvido mais da minha capacidade de fazer as coisas que eu quero que aconteçam ACONTECEREM! Mas eu sei que nem tudo vai acontecer, afinal não depende só de mim ou de você. Cansei de lutar contra tudo isso que vai contra o sentir e o querer, aprendi a ignorá-las, não preciso mais cravar batalhas
contra meu orgulho, minha teimosia, minha ansiedade, não se eu realmente sei o que me interessa, o que pra mim é mais importante que tudo isso. E também sei que não preciso colocar aqui em meio a um texto enroscado, de um rastro clichê, o que eu quero. Já te disse antes e sempre que precisar te direi novamente, nunca
deixei de responder suas perguntas, mesmo quando estive em dúvida, não escondi isso de você. Não quero que você tenha piedade, não quero enganar a mim mesmo, não
quero fazer você sentir coisas, não tenho esse direito, assim como não tenho mais o direito de cobrar atitudes suas, aliás nunca tive e você também não o teve.

Se um dia houve pureza em meus olhos, era a pureza que refletia de ti, de tua pele, de tua boca, de tua fala, do teu próprio olhar. Mentira. Ela vinha de mim mesmo, de algo que eu não consegui perceber em tempo.

Por favor, não me peça mais respostas, eu não quero entender as perguntas. Você, melhor do que eu, sabe o que tem de ser feito, o que tem que ser levado em consideração, e o que tem que ser deixado de lado. Você tem, as suas, respostas, elas estão aí, estão escondidas em algum lugar, talvez bem lá no fundo do teu peito. Talvez.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Vigilia

O polegar desliza de encontro ao indicador. Novamente. Outra vez. O movimento se repete e não há porque controlá-lo. Ele apenas acontece. Assim, como tudo devia ser, tudo devia apenas acontecer, deixar rolar. É um gesto tão simples, tão fácil. O terreno ajuda, a superfície é lisa, macia e quente. Mecânica perfeita. Apenas observo. Tento enxergar, sob as pálpebras fechadas, dois olhos de escuras amêndoas. Grandes, belos, inocentes, sedutores. Eles estão ali, escondidos ou não, eles estão. Encaixados perfeitamente, um em cada metade, na cabeça que repousa sobre meu ombro. Os fios, finíssimos, de cabelo negro se enroscam na minha barba. É inútil tentar se afastar. Eu não quero. É minha vez. Fecho os olhos e ela percebe. Agora eu sou o vigiado. Não sei o que ela pensa, não sei no que ela repara, pode ser que continue adormecida. Só posso acreditar que me quer bem. Segue o torpor.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Laerte ou O fim

É o fim da linha
o fim da vida
o fim de tudo
o fim do mundo

é a hora
é o que esperava
o que não se espera
o que nunca acaba

o que não se vê
não dá bola
não responde
não interessa

é o que foi
o que fiz
o que fica
não o que diz.