sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mariano LV

A cama parecia desconfortável demais naquela noite - ora o colchão parecia muito endurecido, ora muito mole. De bruços, de costas, virado para a parede, para o restante do quarto; não havia posição que convencesse o sono a se deitar sobre a alma confusa. Uma tentativa era pensar e pensar, criar teias, soluções para alguns problemas do amanhã, tentar relembrar do que vale, ou não a pena, até, quem sabe, chegar a boa hora em que a cerveja é servida em pratos de porcelana produzidos pelo, quase aposentado, colega de trabalho que pediu uma caixa de fósforos, com cabeças azuis, ao paciente terminal, que sofria de catapora, que não encontrava sua moeda da sorte na carteira, pois fora engolida, sem perceber, ao beber um leite de magnésia batido com algas.
Neste momento talvez pudesse ter certeza que o sono viera. E que dali em diante já não teria mais que se preocupar em ser dono de si mesmo. O piloto-automático estava funcionando, a viagem seria longa. Porém, um vidro quebrado, um pedaço de madeira caiu no chão, algum ser humano corria lá fora.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Não me sobra, me falta.

O raro momento de coragem me vem e com ele o tremendo êxtase de me sentir vivo novamente, talvez mais próximo de um sentido, nem que seja, realmente, só meu. Me sinto pronto, capaz, potente, entusiasmado; não há confusões, não existem duvidas, um constante ausência da necessidade do porque. "Agora vai!". Os medos se dissolveram, a vontade de cair é maior do que tudo, é a hora de partir sem pensar na volta.
Porém, alguns minutos, talvez algumas horas, uma madrugada depois, tudo está de volta, tudo volta a ser como já foi e parece que não deixará de ser assim jamais. Percebo que na verdade os medos só haviam repousado um pouco no fundo da alma, porque são pesados demais para serem sustentados a todo momento na superfície. "Não fui". Acreditei que a transformação era eterna - o mal da euforia -, acreditei que tenho todo o tempo do mundo para fazer aquilo pelo que tinha espera no resto do tempo, que já não me sobra, me falta [segurança].