sábado, 17 de outubro de 2009

"Perfume" ou "I Mariano"

— É isso! Você me entende? Foram as últimas palavras dela que permanecia virada para o espelho sem conseguir encarar Mariano.

Com grande dificuldade, como se seu coração estivesse subindo pela garganta, “Entendo”. Mas na verdade Mariano não entendia, ou não queria entender. Ele queria apenas não ter saído de casa naquela tarde, não queria ter acordado, não queria ter tido o pesadelo da noite anterior, enfim, não queria estar ali com ela, com medo.

Atônito, Mariano só conseguiu pensar em uma coisa: ir embora. Mas antes passou a mão pela cômoda, sem olhar, pegou algo, colocou no bolso e bateu a porta ao sair. Alcançou a rua. Percorreu um par de quarteirões com passos curtos e ligeiros, até que parou de respirar como seus passos. Quem o via agora não podia imaginar, se é que enxergam ou imaginam, a cena de conflito passada há cinco minutos, podiam enxergar apenas mais um, um qualquer. Mas um qualquer também sofre e Mariano sofria.

Ele não sabia pra onde ir, na verdade não queria estar ali e em nenhum outro lugar.

Para casa? A família nunca ajuda nessas horas. Amigos? Sempre querem saber demais. Sozinho? Afinal, quem não está? Entrou no primeiro bar que encontrou e se sentou da porta pra fora. Não queria perder o pôr-do-sol, podia ser que a contemplação o ajudasse, ou fingisse ajudar fazendo as lágrimas saltarem dos olhos secos.

— Quer algo pra já?

Mariano não queria nada, nada que aquele homem lhe pudesse oferecer, mas sentiu-se obrigado a pedir o mínimo um refrigerante àquele que o acolhia mesmo sem saber.

O estalo da lata ao abrir e o som do líquido indo de encontro ao fundo do copo lhe concedeu uma certa tranquilidade. O céu já não era mais tão azul, e sim laranja no seu horizonte. Esfriava. Um gole. O copo gelado deixou suas mãos ainda mais frias, enfiou-as no bolso, porém aquele lugar já tinha dono. Mariano achou estranho. Agarrou o “algo” com cuidado e o tirou. Era quase tão gelado quanto o copo sobre a mesa. Foi quando viu um frasco transparente de um perfume transparente. Há um tempo atrás aquilo fora um presente a ela. A recordação do que fizera antes de sair e bater a porta ao passar a mão sobre a cômoda lhe atingirá como uma bala, só não recordou o “por que”.

Uma cadeira, uma mesa, um copo, uma lata vazia, um perfume, um Mariano, aquilo era o mundo naquele momento...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Obama, a volta do perigo vermelho

Queda de popularidade, negociação de votos e acusação de ser comunista. Este é o cenário atual da política de Barack Obama, presidente dos Estados Unidos. Tornar-se menos popular já era esperado, afinal toda a democracia se frustra um pouquinho ao descobrir que os efeitos de uma mudança política demoram um pouco a aparecer, negociar votos também se justifica pela quase igualitária divisão do senado americano entre republicanos e democratas. Mas acusar o homem mais poderoso do mundo de comunista? Há algo errado, com certeza.


Tudo começou após Obama colocar e tramite a proposta de criação de um sistema de saúde publica para atender os estadunidenses mais pobres, pois é, eles existem. Não demorou nada para os republicanos iniciarem uma propaganda dizendo que o governo queria interferir demais na vida dos cidadãos, controlando onde estes deviam ir para se tratar e quais tratamentos deviam ter. Logo, o horror se espalhou. Pais não dormiam direito preocupados com o futuro de seus filhos, e estes com o bem estar de seus pais que se tornaram em breve idosos e vão precisar de serviços médicos.


O governo com certeza não proverá o melhor tratamento ao seu povo, e sim o mais barato, a real intenção de Obama é matar velhinhas e estancar o crescimento populacional no país. Nisto acredita uma boa parte da população. Parece história de maluco e É. Os traumas dos estadunidenses com o terror vermelho dos militantes comunistas desde o inicio do século passado até o fim da guerra-fria não estavam mortos, ou melhor, ressuscitaram. É impossível pedir para que um norte-americano, que vive entre o México e o Canadá, acredite que seus governantes estão interessados em ajudar a população e fazer com que os pobres, novamente eles, possam ter direito a um tratamento médico de qualidade e assegurado ao momento em que mais precisarem, assim como é impossível um brasileiro entender que o governo extinguirá o SUS.


Na verdade esta reação de parte considerável da sociedade e de seus políticos só provam, respectivamente, que os efeitos de uma propaganda midiática massiva anti-vermelhinhos e os interesses financeiros de lobistas, das indústrias farmacêuticas e de planos de saúde, podem cegar e extinguir o bom-senso de uma nação inteira. Agora, o mais estranho é que ajudar bancos, que se afundaram em dividas, com o dinheiro publico não é nenhum pouco ‘comunista’.