Com grande dificuldade, como se seu coração estivesse subindo pela garganta, “Entendo”. Mas na verdade Mariano não entendia, ou não queria entender. Ele queria apenas não ter saído de casa naquela tarde, não queria ter acordado, não queria ter tido o pesadelo da noite anterior, enfim, não queria estar ali com ela, com medo.
Atônito, Mariano só conseguiu pensar em uma coisa: ir embora. Mas antes passou a mão pela cômoda, sem olhar, pegou algo, colocou no bolso e bateu a porta ao sair. Alcançou a rua. Percorreu um par de quarteirões com passos curtos e ligeiros, até que parou de respirar como seus passos. Quem o via agora não podia imaginar, se é que enxergam ou imaginam, a cena de conflito passada há cinco minutos, podiam enxergar apenas mais um, um qualquer. Mas um qualquer também sofre e Mariano sofria.
Ele não sabia pra onde ir, na verdade não queria estar ali e em nenhum outro lugar.
Para casa? A família nunca ajuda nessas horas. Amigos? Sempre querem saber demais. Sozinho? Afinal, quem não está? Entrou no primeiro bar que encontrou e se sentou da porta pra fora. Não queria perder o pôr-do-sol, podia ser que a contemplação o ajudasse, ou fingisse ajudar fazendo as lágrimas saltarem dos olhos secos.
— Quer algo pra já?
Mariano não queria nada, nada que aquele homem lhe pudesse oferecer, mas sentiu-se obrigado a pedir o mínimo um refrigerante àquele que o acolhia mesmo sem saber.
O estalo da lata ao abrir e o som do líquido indo de encontro ao fundo do copo lhe concedeu uma certa tranquilidade. O céu já não era mais tão azul, e sim laranja no seu horizonte. Esfriava. Um gole. O copo gelado deixou suas mãos ainda mais frias, enfiou-as no bolso, porém aquele lugar já tinha dono. Mariano achou estranho. Agarrou o “algo” com cuidado e o tirou. Era quase tão gelado quanto o copo sobre a mesa. Foi quando viu um frasco transparente de um perfume transparente. Há um tempo atrás aquilo fora um presente a ela. A recordação do que fizera antes de sair e bater a porta ao passar a mão sobre a cômoda lhe atingirá como uma bala, só não recordou o “por que”.
Uma cadeira, uma mesa, um copo, uma lata vazia, um perfume, um Mariano, aquilo era o mundo naquele momento...