quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Vigilia

O polegar desliza de encontro ao indicador. Novamente. Outra vez. O movimento se repete e não há porque controlá-lo. Ele apenas acontece. Assim, como tudo devia ser, tudo devia apenas acontecer, deixar rolar. É um gesto tão simples, tão fácil. O terreno ajuda, a superfície é lisa, macia e quente. Mecânica perfeita. Apenas observo. Tento enxergar, sob as pálpebras fechadas, dois olhos de escuras amêndoas. Grandes, belos, inocentes, sedutores. Eles estão ali, escondidos ou não, eles estão. Encaixados perfeitamente, um em cada metade, na cabeça que repousa sobre meu ombro. Os fios, finíssimos, de cabelo negro se enroscam na minha barba. É inútil tentar se afastar. Eu não quero. É minha vez. Fecho os olhos e ela percebe. Agora eu sou o vigiado. Não sei o que ela pensa, não sei no que ela repara, pode ser que continue adormecida. Só posso acreditar que me quer bem. Segue o torpor.