segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Respirando pelo nariz e expirando pela boca...

Não creio que a esperança é a última que morre, pra mim ela é imortal.
Por isso, não posso começar o post dizendo que a esperança renasceu. Estaria me contradizendo. É o seguinte, hoje rolou uma reuniãozinha (antes tarde do que nunca) com os brothers e manos, do trampo loco da vida de um tal de teatro.


As coisas não iam muito bem. Gargantas entaladas prejudicam o aquecimento vocal. Sentamos e discutimos, tudo? Nem. Mas foi muito bom, é sempre legal ouir o que as pessoas tem pra falar quando elas também se dispõem a ouvir. Quase tudo ficou acertado, nem tudo foi do jeito que eu queria, porém, se fosse não era justo.
O que ficou é uma sensação de continuar na labuta, correr atrás, respirando pelo nariz e espirando pela boca. De cócoras ou com a bunda no chão, vendo o desenvolvimento dos camaradas. Aprendendo e sendo aprendido.


Fazer rolar uma coisa, na qual se investe muito parecendo pouco, e colher os frutos, só não é melhor do que compartilhar com quem merece, com quem caminha junto.

sábado, 5 de setembro de 2009

Cada quarteirão

Chego na esquina, a primeira. Agora, quando olho pra frente há uma grande via, não tão larga como deveria ser, mas seu comprimento não permite que eu veja o final. Daqui, começarei a caminhada ou jornada. Sei onde quero chegar. Está quente, tanto que posso ver o asfalto e as calçadas sublimando, não derretem, mas evaporam e me ponho a andar, passo a passo no meio daquela dança de gases invisíveis. Quando me deparo com a escada de largos degraus, lembro das pessoas, muitas, que aguardavam algo sentadas ali todos os dias de manhã, não conseguia ouvir o que diziam estava muito distante. E é mais difícil lembrar de sons que de imagens. Sigo em frente. No primeiro cruzamento há um semáforo, ele me impede de atravessar, tenho que obedecê-lo. No entanto, um carro para na minha frente, ele não avança. O motorista se contorce no interior do veículo, não consegue enxergar a luz redonda que o manda ir em frente, o sol o atrapalha e, além disso, o semáforo está muito acima de seu campo de visão. Quando me vê parado observando-o, decide acelerar, olhando atentamente para os lados. Não há muito movimento, quase nenhum. Permissão concedida. Cumpri minha pena, preso por aproximadamente quarenta segundos.

O quarteirão atual não me lembra muita coisa. Só penso naqueles que estavam sentados na escada. Dizem que são estudantes, parecem diferentes, parecem algo melhor, pessoas melhores, mais felizes. Esse acabou rápido. Realmente seu comprimento parece menor do que o anterior e os outros que virão. Agora não há mais semáforo, atravesso ligeiro. Existem muitos prédios de arquitetura antiga, bonita, misturada com ferro fundido em grades e portões totalmente fechados. Aqui paz e pássaros, do outro lado desses portões um barulho de muita gente falando ao mesmo tempo, algumas vezes ouve-se um grito. Deixo isso de lado. Existem muitos carros parados ali aproveitando as sombras de algumas árvores, elas realmente ajudam a diminuir a sensação do calor, o sol está a pino. Avanço. De um lado uma praça meio deserta do outro uma igreja fechada. Mas não é uma igreja qualquer, ela é grande, as pontas de suas torres, que se esticam, parecem querer cortar o céu. Também de dentro delas parte os sons de sinos, eles informam o horário, pra mim não faz diferença, não tenho compromisso nem pressa, continuo andando no mesmo ritmo, passo a passo.

Já estou em outra calçada. À minha direta, um prédio com muitas janelas de madeira, poucos vitrôs. Essa casa, como a chamam, sempre me faz pensar no sofrimento de quem mora ali, no esquecimento, na dificuldade. Porém, de fato não conheço sequer uma pessoa que ali tenha entrado e confirmado qualquer uma das minhas sensações. Acho que me antecipo na dor, mas logo esqueço. Um pouco mais à frente, ao atravessar o quarto cruzamento, estou na praça, um pouco mais movimentada que a anterior, há mais bancos. Um casal de namorados, um velho com o jornal sobre as pernas sem olhar para ele, apenas distraindo-se, algumas pessoas passando, crianças correndo e um garoto com um violão. O conheço. Sento a sua frente no chão. Cumprimento-o, contudo sem interromper a melodia e os acordes. Não conheço a música, mas me agrado com ela. Trocamos algumas palavras durante uma pausa, ouço mais do que falo, de repente ele me aponta uma direção. Uma garota chega e senta-se do outro lado da praça, de costas para nós, a conheço. Vou até ela. Sorrimos sorrisos sem graça, sento-me e sem dizer uma palavra me beija. Tudo para. Não vejo mais nada, nem ouço, só sinto um calor que percorre o corpo dela e seu cheiro, suave, que não é de perfume, é dela. Tenho que ir. Nos despedimos, aceno para meu amigo do violão e ele apenas retribui.

Mais um semáforo, mas agora ele me concede permissão, só pede para que eu tenha cuidado. Tenho mais uns cinco quarteirões antes de chegar ao meu destino, no entanto, penso em coisas aleatórias e caminho respirando fundo para não me cansar e suportar o calor que agora também já diminuiu um pouco, talvez se tenha passado mais tempo na última parada do que imaginei. Sem problema.

Estou a um cruzamento do ponto final. O asfalto já não derrete mais, os gases se dissiparam. O sol se esconde entre algumas nuvens que ameaçam ser de um temporal, escuras, que em um ou outro momento se tornam claras devido aos raios que partem delas, mas que atingem lugares distantes. O vento sopra mais forte, ainda quente. Enquanto observava não parei de caminhar. Estou na frente do portal que impede a continuação da rua e a passagem de qualquer um. Do outro lado, várias pessoas caminham bem vestidas com ar de quem não se preocupa com nada, de quem não precisa se preocupar. Algumas me chamam com uma espécie de sarcasmo em seus gestos, outras, apenas me ignoram. Sigo em frente, porém, não consigo passar. Ainda não está na hora. Viro-me. Assim como não enxergava onde agora estou, não posso ver de onde parti.

Reinicio o caminho de volta, agora com muito mais pressa do que antes, sequer olho para os lados. Chego em casa, completamente cansado, a chuva quase me alcançou. Hoje não quis me render a ela. Entro em meu quarto, fecho a porta e coloco os livros que estão sobre a cama no chão. Dou pequenos socos no travesseiro, a fim de ajeita-lo sob minha cabeça, me deito. Desperto.